A nuvem cinzenta que paira sobre o governo de Rafael merece melhor atenção

Os últimos dias  foram marcados por uma sequência de episódios que fizeram do governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT)alvo de muitas críticas e notícias negativas.

Governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT). Foto: TV Lupa1
Embora de naturezas distintas, esses acontecimentos criam a percepção de uma crise sobre o governo. O relato abaixo reúne fatos documentados sobre cada caso e explica por que a opinião pública passou a questionar a capacidade do governo de reagir a esse conjunto de crises.

O áudio do vereador de Dom Inocêncio

No início de julho de 2025, um áudio atribuído ao vereador Raimundo do Lero (PSD)de Dom Inocêncio, viralizou nas redes sociais. Na gravação, o parlamentar relata ter ouvido de um empresário que o governador exigiria R$ 2 milhões para liberar verbas de obras de calçamento.

Vereador Raimundo do Lero (PSD), de Dom Inocêncio
Ele sugere que o pagamento faria parte de um “sistema” de desvio de recursos públicos destinados a obras, com a finalidade de financiar campanhas eleitorais.

A gravação não foi autenticada e o vereador não apresentou documentos que comprovassem a acusação, mas o episódio provocou forte repercussão política e colocou a administração estadual na defensiva, sem uma reunião mais enérgica contra o fato. O governador optou por mostrar total  desconhecimento do fato.

Operações OMNI e Difusão na Saúde

No final do último mês de setembro, a Polícia Federal, em parceria com o Tribunal de Contas do Estado e a Controladoria-Geral da União, deflagrou as operações OMNI e Difusão.

As investigações miraram contratos da Secretaria de Saúde suspeitos de fraude em licitações, conluio entre empresas e servidores, superfaturamento e contratação de softwares sem necessidade. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão e determinado o bloqueio de recursos.

Embora o inquérito não tenha atingido diretamente o gabinete do governador, a operação expôs vulnerabilidades nos mecanismos de controle de sua gestão e reforçou a imagem de desorganização interna.

Bruno Santos Leal Campos e Nemesio Martins de Castro Neto, gestores de Organizações Sociais de Saúde (OSSs) presos em operação da Polícia Federal

Leia mais em:

A exoneração de Lucile Moura

No início de outubro de 2025, o governo exonerou Lucile de Souza Moura do cargo de assessora técnica da Secretaria de Governo. A servidora, que havia sido diretora da Empresa de Gestão de Recursos do Piauí (Emgerpi) e era considerada influente nos tempos do ex-governador Wellington Dias, foi dispensada de ofício, sem pedido de demissão formal.

Sua saída ocorreu um mês após ela ser alvo da Operação Vice-Cônsul, da Polícia Civil, que investiga um suposto esquema de produção e uso de denúncias anônimas falsas contra autoridades.

A exoneração foi publicada no Diário Oficial do Estado. O caso levantou questionamentos sobre critérios de nomeação e a proteção que se dá a colaboradores implicados em investigações.

Militares na berlinda

As turbulências atingiram também o Gabinete Militar do Palácio de Karnak. Em dezembro de 2022, uma reportagem revelou que o então nomeado chefe do gabinete, capitão João Ricardorespondia a processo por agressões física e psicológica contra a ex-esposa. Mesmo assim, ao assumir o governo em 2023, Rafael Fonteles manteve o oficial no cargo, decisão criticada por movimentos de defesa das mulheres.

Já no início deste mês de outubro, outro escândalo expôs o Gabinete Militar: capitão Carlos Alves, braço direito de João Ricardo e segundo na hierarquia do conhecido Gamilfoi preso em Teresina. Ele dirigia embriagado na contramão quando atropelou três pessoas, deixando-as gravemente feridas.

Ao chegar à Central de Flagrantes, um jornalista que cobria a prisão foi ameaçado por policiais que acompanhavam o militar. O episódio levantou dúvidas sobre a cultura de responsabilidade e a seletividade na disciplina interna da corporação ligada ao governo.

A polêmica envolvendo John Wallace

Por fim, supostas ameaças a ex-companheira também deixaram o assessor especial John Wallacehomem de confiança do governador, que se transferiu do PT para o PDT com a missão de disputar uma vaga na Câmara Municipal de Teresina, em maus lençóis.

Circulou nas redes sociais a alegação de que Wallace teria enviado mensagens ameaçadoras à ex-esposa. Os áudios e mensagens atribuídos a ele foram repercutidos por páginas de redes sociais, e portais de notícias. A exposição intensificou o debate sobre a conduta do núcleo político próximo ao governador.

Alerta

A sucessão desses episódios, um áudio acusatório sem provas, investigações federais na saúde, a exoneração de uma aliada histórica, acusações contra militares próximos e rumores sobre um assessor, cria um efeito cumulativo que alimenta a sensação de que o governo perdeu o controle da agenda.

Ao se apresentarem em sequência, as crises se reforçam mutuamente e minam o discurso de modernidade e eficiência que marcou a campanha e os primeiros anos do governo  de Rafael Fonteles.

O governador e sua equipe precisam responder com transparência às investigações e demonstrar que há rigor na escolha e no acompanhamento de auxiliares. A exoneração de Lucile Moura e a manutenção de um militar envolvido em processo de violência doméstica sinalizam critérios ambíguos.

A permanência de boatos não esclarecidos sobre assessores próximos, mesmo que sem comprovação formal, também gera desgaste.

Sem fazer uma crítica frontal, este panorama serve de alerta: para recuperar o capital político e a confiança social, será essencial fortalecer os mecanismos de integridade, prevenir novos escândalos e agir preventivamente, em vez de apenas reagir quando as crises explodem.

Ao reconhecer e corrigir falhas internas, o governo poderá reverter a narrativa de desmoronamento e demonstrar que enfrenta os desafios com responsabilidade, sem tergiversar ou mesmo subestimar suas consequências.

Para Rafael, jovem e cheio de projetos para o futuro, não é razoável jogar problemas para debaixo do tapete, muito menos achar-se superior a eles.

Fonte