“E se fosse sua filha?”, diz pai de Alice após inquérito apontar acidente

A família de Alice Brasil Sousa da Pazde 4 anos, que morreu em um acidente no Colégio CEV, concedeu coletiva à imprensa na manhã desta segunda-feira (13) para comentar a conclusão do inquérito sem indiciamentos. Em tom de revolta, o pai da criança, Claudio Souzaquestionou o delegado responsável, Hugo Alcântarasobre o que ele teria feito “se fosse uma filha dele”.

Família de Alice Brasil concede coletiva após conclusão do inquérito apontar morte acidental. Foto: TV Lupa1

“Se fosse o seu filho ou sua filha vítima de um tombamento ocorrido em uma escola particular, da qual a gente paga uma mensalidade caríssima, e não nos deram segurança, o que vocês fariam? A nossa busca é por justiça. É com profundo lamento que nossa família, antecedente ao dia da criança, que divulgou o inquérito com uma conclusão em que passaram mais de 2 meses para chegar a uma conclusão de arquivamento sem nenhum indiciamento. É vergonhoso um trabalho levar mais de 2 meses e meio para se chegar a essa apuração. Diante de tantos fatos que foram mostrados para o Brasil inteiro. É vergonhoso”, afirma o pai de Alice Brasil.

Claudio Souza e Dayana Brasil, pais de Alice. Foto: TV Lupa1Claudio Souza e Dayana Brasil, pais de Alice. Foto: TV Lupa1

A Polícia Civil do Piauí concluiu que a morte da menina, ocorrida nas dependências do Colégio foi acidental e sem indícios de crime. Segundo a advogada Arielly Pacifico, o inquérito já foi encaminhado ao Ministério Público do Piauí (MPPI), que analisará as provas reunidas pela investigação e definirá os próximos passos. Caso o MPPI decida pelo arquivamento, a defesa ainda poderá recorrer, o que levaria o caso à análise de um novo promotor.

“48 horas depois, ele (delegado) já indicava que quatro depoimentos eram suficientes para encerrar o inquérito. Nem a nossa família, que estava presente no momento do acidente, foi ouvida, nem outros envolvidos. Sendo que nas imagens todos puderam ver a quantidade de pessoas envolvidas, tanto durante quanto após o ocorrido. Isso é apenas o primeiro fato que trago aqui”, declarou Cláudio Souza.

Entenda

Alice morreu no dia 5 de agosto, após uma penteadeira infantil tombar sobre ela na brinquedoteca do Colégio CEV, localizado na zona Leste de Teresina. No momento do acidente, outras quatro crianças estavam no local, acompanhadas por duas professoras.

Alice Brasil Souza da Paz, de 4 anos - Foto: ReproduçãoAlice Brasil Souza da Paz, de 4 anos – Foto: Reprodução

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que a menina sofreu traumatismo cranioencefálico, edema cerebral difuso e hematoma subdural agudo, lesões compatíveis com o impacto da queda do móvel.

Dayana Brasil, mãe de Alice, afirmou que a família recebeu apenas as imagens do momento do acidente e da enfermaria, onde Alice não aparece, pois estava em outra maca. Dayana fez críticas ao atendimento prestado à filha afirmando que as gravações mostram que Alice teve o rosto coberto por uma jaqueta escolar, o que segundo ela, não condiz com os procedimentos que a criança necessitava.

“Quando ela precisava de massagem respiratória e cuidado, sabe o que fizeram? Colocaram um casaco escolar no rosto da Alice. Se ela tinha uma chance, ali eles terminaram de tirar. Tiraram a chance da minha filha por falta de atendimento adequado. Em nenhum momento a enfermeira afirmou que fez massagem respiratória. Ela entra no carro, pelos braços de uma professora, no banco da frente e a enfermeira estava no banco de trás. Quando o Samu recebeu a Alice ela estava sem sinais vitais. Se ela teve alguma chance, essa chance não foi dada pelo CEV”, afirma a mãe.

Defesa questiona pontos do inquérito

A advogada Arielly Pacífico afirmou que o laudo pericial apontou que o Colégio CEV não seguiu as normas técnicas da Norma Mercosul 300/2002, que estabelece critérios de segurança para brinquedos destinados a crianças com menos de 14 anos.

Segundo a advogada, a conclusão do inquérito, que recomenda o arquivamento do caso sem indiciamentos, contraria as evidências apresentadas no laudo. Ela destacou ainda que, em depoimento, a cuidadora do espaço informou que a penteadeira estava posicionada de modo invertido para evitar que as crianças escalassem o móvel, o que, para a defesa, demonstra que a escola tinha conhecimento do risco.

“Como advogada criminalista manifesto discordância e profunda preocupação com a conclusão do inquérito para inexistência de imprevisibilidade no trágico evento que culminou na morte da Alice. O delegado titular concluiu que afasta a possibilidade do homicídio culposo por não existir previsibilidade do tombamento do móvel. O relatório final tenta justificar informando que a penteadeira não teria potencial lesivo em uso normal e o que aconteceu foi anormal, imprevisível. Essa linha de raciocínio inverte a lógica da responsabilidade. A negligência está na falha humana de quem permitiu que aquele imóvel em local inadequado”, afirma a advogada.

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